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quarta-feira, 30 de setembro de 2009



Onde estavas, Lugar?

Onde está você? De olhos cerrados lhe conheci. Mas quem é você? De olhos fechados me amaste. Foste clara e me esperaste quando eu quase nem mais tentava, de não mais acreditar. O que você passou? Você teve duas doenças e eu nem sei. Talvez três. O que passou por você? Eu te acolhi sem te ouvir ou entender. E eu queria aquela cor que a tua luz oferece ao que acontece. Eu quero aquele teu viço misterioso que nutre as plantas, que parece que crescem por você, e te abanam e te aconchegam. Não pude entrar em ti porque nunca sairia desse labirinto, sendo pétreo, mesmo leve como o ar. Não sei se posso te ter, não sei se esse é mais um texto que não mandei pra você. O que passou? O que passou por nós? Tenho medo de entender. Tenho medo de não conseguir e de conseguir. Tenho medo de cegar-me e de fechar os olhos por muito por não suportar. Tenho medo de tua doçura porque não tenho armas contra ela. Talvez foi teu sonho que me enlouqueceu. E me deixou acordado de pavor. E querendo com ânsia o impossível, como se num instante eu encontrasse o que me bastava para sempre, como se encontrasse o que me bastava para sempre de uma só vez. Nesses momentos era hora de minha infância acordar e suspirar perdida, e querer voltar a dormir para ter enganos doces onde estar extasiadamente satisfeito para sempre fosse possível, e saber que é preciso acordar para não deixar de procurar, não deixar a busca morrer, porque o tesouro está além e o pequeno fim de nós mesmos deve ser mesmo pequeno diante de tudo aquilo que se quer. E agora eu precisei falar contigo e dormias como um anjo que tu és. E tua mãe, judiciosa, não quis te acordar, e tampouco eu pude hesitar. E queria todas as cores do teu delírio, o que fez minhas órbitas marejarem e meu corpo tremer. O perigo que corro é depois de tudo o que fizer você não conseguir gostar de mim. Isso seria aterrador.
Onde é esse lugar, que é você?
Até tentei te ignorar. Depois até tentei esquecer. No entremeio, tentei fingir. A todo tempo, tentei fugir. E depois me olhavas como se eu fosse impossível... E já não havia onde esconder o tesouro, o tesouro que eu era, sem saber mas com todo o meu esforço inepto. E tua força erguias como um sol e era sólida como uma montanha, mesmo naquele olhar iludido... E tua voz me enlouquece, teu olhar me enlouquece, e eu choro apenas ou por um triz não choro, e quando te encontro fico histérico. Às vezes o que sinto ou não sinto é tão estranho que eu me assusto, e realmente receio ter perdido o tino. E tudo o que posso verdadeiramente perder é aquilo que você não sentir. Eu te amo mais do que posso escrever. E escrever é a coisa que mais sei fazer na vida. Eu te amo menos do que posso escrever. Eu te amo como não posso escrever. E quanto mais eu peço, em prece, que não sejas perfeita, mais o és, e quando rogo, por misericórdia, para que me abandones, tua imagem se fixa em minha mente escura e silente e não se apaga porque és a última luz, impossível de apagar, e eu fico obcecado perdendo as horas em devaneio, e a fome é pouca, o sono se esquece. Nesse consumidor instante és a tênue separação entre a vida e a morte. Entre o abandono absoluto ao nada e a esperança, parva, frívola, somente a necessária, mas ainda a impossível. Às vezes desejo ser cego, porque te ver é um suplício, mesmo a mim que entendo tudo sobre a felicidade. Te imaginar é insuportável. Mas a luz na minha mente só se apagaria junto comigo. Eu me ausento porque às vezes tuas lágrimas são a única coisa que faz sentido. E você me pediu pra eu te fazer chorar, e eu, que entendo tudo sobre a felicidade, não entendi o teu pedido. Quando me pediste pra te fazer chorar, eu te fiz sorrir. Perdi meus sentidos, e aquela fraca luz inebriou a sanidade.
Queria que se curasse essa vontade de solidão, ou só esse silêncio.
Viro um idiota e não quero que você vá embora. Querendo desesperadamente o que sei com toda a certeza que é impossível, apenas porque minhas fraquezas foram mais fortes do que eu, tomaram conta e aboliram a escolha. Gostaria de me perder em ti e que isso não fosse loucura... mas creio que só pensar isso já seja. Não sei mais pensar. Ficou difícil respirar de repente.
Fico tonto, a consciência torna-se insuportável. É difícil te amar. E por todos os momentos em que eu precisei de você... e talvez precises de mim... Pavor, pavor, pavor.

Longe

7 comentários:

Luciane Slomka disse...

Que bonito. Adorei a idéia de considerarmos alguém um lugar; um lugar que desejamos estar. E como é dificil quando esse lugar foge da gente. Muito bom! Devias escrever mais aqui!

Daniel Dutra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Decadentissimo disse...
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Daniel Dutra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniel Dutra disse...

Tão prolixo... Ainda assim parece parado, de braços abertos, com um 'por quê' nos olhos, sem nada dizer. É doce.

Guilherme Franco disse...

Nunca apagaria um comentário, a menos que a pedido. Nunca apagaria um comentário, ainda que repetido. Ainda que errado ou corrigido. Só pra deixar isso claro, e te deixar bem-vinda e bem-vindo.
Aqui, em qual lugar?

angie machado disse...

Guilherme, Into My Arms!
:*
Angie