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sexta-feira, 20 de julho de 2007

Morrer na tua boca

Não sou ninguém.
Mas se você precisar de alguém,
Posso até me transformar.
Como um da multidão
Me distingüir:
Só pra ver que você me vendo
Nos faz sorrir.
Abandonamos muitos lugares
Para sabermos estarmos juntos,
Abandonamos muitos pares
Para o encontro no parque,
Então não soubemos o que dizer,
Nós, os sábios - os olhos respiravam,
Demasiado acordados,
Muito atentos à invisível escuridão.
O pensamento sobressaltado,
Procurando o modo de estar perto,
Procurando onde pôr as mãos.

Há um fio que de ti eu fui puxando
Que nunca acabou de vir.
As migalhas que deixei pelo caminho
Você, passarinho, tratou de engolir.
Me ofereceu uma bela, vistosa casa
Toda feita, engenhosa, de chocolate.
Veio o sol e nos derreteu.
Você me prendeu em uma gaiola
Toda dona, me alimentando para o abate.
Até que comecei a cantar -
Seus olhos doces e negros
Retribuindo que eu iria calar
Sua fome por alguns momentos.

Que graça mais sutil!
É se oferecer em alimento -
Pouco está mais vivo do que aquilo
Que faz viver, mesmo morrendo.
Depois não existe mais eu e você
Em separados compartimentos:
Eu carregarei num nó
A mordida que você me deu;
E farei um nó no corpo teu
Com o pedaço que de mim tirou.

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